terça-feira, 25 de novembro de 2008

Marshall McLuhan - Meios quentes e frios

Há um princípio básico pelo qual se pode distinguir um meio quente, como o rádio, de um meio frio, como o telefone, ou um meio quente, como o cinema, de um meio frio, como a televisão(no caso, televisão da época de Mcluhan, Preto e branco pouco saturada). Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em “alta definição”. Alta definição se refere a um estado de alta saturação de dados. Visualmente, uma fotografia se distingue pela “alta definição”. Já uma caricatura ou um desenho animado são de “baixa definição”, pois fornecem pouca informação visual, O telefone é um meio frio, ou de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida unia magra quantidade de informação. A fala é um meio frio de baixa definição, porque muito pouco é fornecido e muita coisa deve ser preenchida pelo ouvinte. De outro lado, os meios quentes não deixam muita coisa a ser preenchida ou completada pela audiência. Segue-se naturalmente que um meio quente, como o rádio, e um meio frio, como o telefone, têm efeitos bem diferentes sobre seus usuários.

Um meio frio como os caracteres escritos hieroglíficos ou ideogrâmicos atua de modo muito diferente daquele de um meio quente e explosivo como o do alfabeto fonético. Quando elevado a um alto grau de intensidade visual abstrata, o alfabeto se transforma em tipografia. A palavra impressa, graças à sua intensidade especializada, quebrou os elos das corporações e mosteiros medievais, criando forma, de empresas e de monopólios extremamente individualistas.  O aquecimento do meio da escrita pela intensificação da imprensa repetitiva conduziu ao nacionalismo e às guerras religiosas do século XVI) Os meios pesados e maciços, como a pedra agem como inter-ligadores do tempo. Usados para a escrita, são em verdade bastante frios e servem para unificar as eras e as idades; já o papel é um meio quente, que serve para unificar os espaços horizontalmente, seja nos impérios do entretenimento, seja nos impérios políticos.

Um meio quente permite menos participação do que um frio: uma conferência envolve menos do que um seminário, e um livro menos do que um diálogo. Com a imprensa, muitas formas anteriores foram excluídas da vida e da arte, enquanto outras ganharam uma nova intensidade. Mas o nosso próprio tempo está cheio de exemplos do princípio segundo o qual a forma quente exclui e a forma fria inclui. Quando as bailarinas começaram a dançar nas pontas dos pés, há um século atrás, todos sentiram que a arte do balé havia adquirido uma nova “espiritualidade”. Devido a essa nova intensidade, as figuras masculinas foram excluídas do balé. O papel das mulheres também se tornou fragmentário com o advento da especialização industrial e a explosão das funções caseiras em lavanderias, padarias e hospitais na periferia da comunidade. A intensidade, ou alta definição, produz a fragmentação ou especialização, tanto na vida como no entretenimento; isto explica por que toda experiência intensa deve ser “esquecida”, “censurada” e reduzida a um estado bastante frio antes de ser “aprendida” ou assimilada.

[OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO COMO EXTENSÕES DO HOMEM - Marshall McLuhan]

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